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PARALISIA CEREBRAL

24/06/2019

PARALISIA CEREBRAL

A paralisia cerebral é resultado de uma lesão em um cérebro imaturo. Apesar do quadro neurológico não ser evolutivo as alterações músculo-esqueléticas podem progredir principalmente durante a fase de crescimento.

A prevalência da paralisia cerebral é variável mas encontra-se em torno de 1,5 a 3 por 1000 crianças nascidas vivas. Os neonatos prematuros com baixo peso apresentam uma maior probabilidade de apresentar quadros de encefalopatia, nos pacientes abaixo de 1500 gramas a prevalência é de 90 por 1000 nascidos vivos (Abel, 2006).

A lesão encefálica provoca alterações no tônus muscular como espasticidade, hipercinesias (atetose, coreo-atetose, distônia), ataxia e hipotonia. Tais alterações associadas à perda do controle seletivo (capacidade de controlar movimentos mais elaborados) e alterações do equilíbrio são chamadas de distúrbios primários.

Os distúrbios primários, os quais estão relacionados diretamente a lesão neurológica, impõem ao sistema músculo-esquelético, com o passar do tempo, alterações secundárias, como encurtamentos musculares e deformidades osteo-articulares.
O aumento do tônus muscular, causado pela espasticidade, produzirá forças não usuais ao esqueleto em crescimento. A relação entre o crescimento músculo-tendíneo e crescimento óssea será alterada. O crescimento muscular estará em desvantagem em relação ao ósseo já que os músculos presentam tensão devido ao quadro neurológico e recebem menores estímulos para alongamento. O alongamento muscular nas crianças normais ocorre nas atividades rotineiras, como brincar. Nos pacientes com paralisia cerebral as dificuldades motoras podem impedir situações nas quais o aparato músculo-tendíneo realizaria seu alongamento. Entretanto, a taxa de crescimento ósseo continuará e a desproporção entre esses dois tecidos (músculo-osso) poderá produzir deformidades osteoarticulares.
As deformidades esqueléticas são o ponto final desta cascata de eventos iniciada pela lesão do sistema nervoso central.
O ortopedista pediátrico atuará nesta patologia neurológica nas conseqüências e não na sua causa. O objetivo é bloquear a seqüência de eventos que culminariam com o aparecimento das deformidades músculo-esqueléticas ou corrigi-las caso presentes.

Métodos de Tratamento
A paralisia cerebral é a principal causa de lesão do neurônio motor na infância. Essa situação produz efeitos como a espasticidade, hiper-reflexia, co-contração (agonista-antagonista), além de fraqueza, perda do controle seletivo, déficit sensorial, déficit de equilibrio (Pirpiris e Graham, 2001). O tratamento deverá levar em consideração todos os aspectos relatados. Tradicionalmente os médicos tem focado o tratamento em apenas alguns aspectos, mas hoje sabemos que a fraqueza e a perda de controle seletivo determinam quando e se a criança andará. Os déficits de equilibrio ditam a dependência por aparelhos para a locomoção (Graham e Selber, 2003), enquanto a espasticidade sem controle adequado produzirá as deformidades.
Entre as modalidades de tratamento listamos:
Fisioterapia
A estimulação precoce através da fisioterapia, terapia ocupacional e fonoaudiologia é o ponto de partida para o tratamento dos pacientes com paralisia cerebral. A fisioterapia, além de estimular a criança, deve manter um adequado alongamento muscular evitando contraturas articulares. O fortalecimento é algo a ser enfatizado durante as sessões de fisioterapia (Damiano e Abel, 1998).
Órteses
A presença de inadequado posicionamento articular deverá aventar a possibilidade de ortetização. As órteses são equipamentos utilizados para evitar o aparecimento de deformidades articulares (posionamento) ou para facilitar a realização de determinadas tarefas como o andar, por exemplo. Nos pacientes deambuladores com paralisia cerebral as opções são por órteses abaixo dos joelhos (suropodálicas, supramaleolares).
Controle da espasticidade
O controle da espasticidade (alteração motora mais comum - 75% dos casos), é algo recente e que tem produzido resultados satisfatórios. A utilização de medicamentos sistêmicos produzem o controle global da espasticidade de maneira temporária, o uso de aplicações medicamentosas promovem o controle local e temporário. As cirurgias causam controle localizado, mas em geral permanente. Com relação às cirurgias elas podem ser neurológicas, como a rizotomia super-seletiva, ou ortopédicas com o alongamento músculo-tendíneo.
O uso de medicações para o controle da espasticidade difundiu-se muito nos últimos anos. A toxina botulínica, produz denervação química ao bloquear a liberação da acetilcolina na membrana pré-sináptica (placa mioneural), realiza o controle localizado e temporário da espasticidade (4 a 6 meses).
O fenol é um álcool sendo usado para aplicações em nervos motores, casando desmielinização temporária, com objetivo de diminuir a ação neurológica sobre o músculo, e assim reduzindo a espasticidade. O fenol é uma substância mais barata em relação a toxina botulínica e pode ser utilizada para controle da espasticidade prioritariamente em nervos motores como n. músculo-cutâneo (flexão cotovelo) e ramo anterior do n. obturador (adução do quadril). A infiltração do fenol deve ser realizada no centro cirúrgico com eletroestimulação, para localização do nervo. O fenol não deveria ser infiltrado em nervos sensitivos, pois pode causar neuralgia.
Cirurgias
As cirurgias são de dois tipos: neurológicas e ortopédicas. As cirurgias neurológicas funcionais tem na rizotomia dorsal super-seletiva uma opção para controle da espasticidade. Entretanto as indicações são restritas e alguma dúvida ainda existe sobre sua eficácia em relação aos tratamentos tradicionais (fisioterapia, toxina botulínica e cirurgias ortopédicas). As cirurgias ortopédicas tem como objetivo realizar correção de deformidades, sejam elas dinâmicas ou fixas, através de alongamentos músculo-tendíneos, transferências músculo-tendíneas e cirurgias ósseas (osteotomias).

Programação do tratamento
Para programar o tratamento de pacientes com paralisia cerebral é necessário determinar o objetivo das intervenções sempre tendo em mente atingir o máximo do potencial motor da criança.

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